Miúdos Macrobióticos

Ficam curiosos e perguntam-me como é que consegues que os teus filhos comam assim tantos e quaisquer legumes? E arroz integral? E não perguntam mais, com medo da resposta, não vá eu dizer que nasceram em Vénus e estão cá há pouco tempo.

E não é que nasceram? Nasceram mesmo em Vénus e só agora, neste preciso momento me apercebi! Foi mesmo, no planeta da beleza e do amor.

Depois conto, que nunca comeram carne nas suas amadas vidas, ou que nunca beberam leite de origem animal ou ingeriram iogurtes, nem arroz branco ou qualquer alimento processado, açúcar refinado. É surpreendente, o quanto estarrecidos ficam seus semblantes. Rio-me tanto por dentro. Quando o digo, é naturalmente na sequência de uma conversa, que por isto ou por aquilo, acaba sempre por lá ir parar. Jamais em tom de snobismo ou gritando qualquer tipo de slogan mas tem esse efeito, na verdade. A maioria ou se sente atacada, não entende que coisa é esta, ou vira costas a achar que não bato bem da bola. Os mais despertos, vão para casa pensar e investigam. A seguir telefonam-me a querer saber mais.

O segredo destes miúdos é muito simples!

Antes de nascerem, era já uma freak da macrobiótica. Já tinha começado, bem antes deles, a mudar toda a minha alimentação. Em miúda sempre fui lixada para comer, só mais tarde com a macrobiótica é que melhorei todos os meus hábitos e vontades. Não, não tinha excesso de peso. Tinha e tenho excesso de loucura e poucos medos.

Assim que nasceram, amamentei o primeiro até aos 13 meses e o segundo até aos 10. E quando chegou a hora, de passarem a comer além leite materno, já tinha investigado tudo e por todas as razões e mais algumas, só a macrobiótica fazia sentido. Aliás tudo na minha vida ganhou mais sentido, após me iniciar na macrobiótica.

Então, muito simplesmente, marquei consulta com a Geninha Varatojo. Ela e o Francisco ensinaram-me e ajudaram-me no que foi preciso. Em vez de ligar ao pediatra quando tinham febre ou uma indisposição, ligava para a casa dos Varatojo. Atendiam-me sempre e ajudavam sempre, ora com kuzu, ora com kanten. Caso não passasse (raras eram as vezes) pedia ajuda ao pediatra.

Então, o medicamento baseava-se todo na alimentação (viva Hipócrates). Panelões de papa de arroz integral com arroz glutinoso, kombu, feijão azuki e sementes de sésamo. Quando chegou a vez das sopas, saboreavam já vegetais escaldados bem picados. E assim mais do que nunca, lá fui aprendendo a bailar entre o passe-vite e o suribashi, entre a alimentação para bebés e para crescidos. O marido rendeu-se e hoje vive o mesmo: a insensatez da lucidez e o discernimento apurado.

E mais uma vez, contra os que não estavam ao meu lado, preconceitos ao alto e bocas boicote, prossegui este caminho desde a pequena infância à maior, de cada um deles. Passando pela escola, professores, colegas, pais de colegas, festas de aniversário…! Há quem nos ache uns coitadinhos… Credo não sei como conseguem não comer carne, eu morria! A maioria das vezes apetece-me dizer pois, assim para lá caminhas e mais depressa. Mas não digo, é feio e de nada vale.

Contudo, torna-se aborrecido, ouvir que a carne é que é, ou que os meus miúdos podem ficar com problemas mais tarde, por nunca a terem ingerido. Incrível a inversão de pensamentos, a inconsciência inerente. O maior cego é mesmo, aquele que não quer ver. E, já perdi a pachorra de falar acerca desta questão – carne, repleta de antibióticos, hormonas (daí os miúdos de hoje serem bem mais altos) e porcarias, que só a longo prazo se revelarão os efeitos. Ou o quanto damos cabo do planeta, com a criação massiva e injetada das vaquinhas e das galinhas, enfim!

Portanto, quando me perguntam como é que eles gostam de arroz integral e porque é que nunca comeram arroz branco… É por isto: nunca comeram outra coisa, senão macrobótica pura. E como somos animais de hábitos, é fácil depreender!

Mas isto é tudo muito bonito! Porém, deixem-me que vos diga… Dá trabalho, muito trabalho. Fazer comida fresca todos os dias, equilibrada e completa, implica uma grande organização. Para quem é despistada como eu, tem sido um enorme aprendizado.

Manter o frigorífico sempre repleto de verduras frescas, já arranjadas e preparadas para a sua confecção; um congelador cheio de caixinhas, com todas as variedades de leguminosas, já cozidas com kombu e prontas a enriquecer, cada prato de forma variada e feliz; contar sempre com dois cereais integrais diferentes, para não repetir e jamais pensar em sermos monótonos; sementes várias sempre tostadas; algas e peixe (para os miúdos) umas 2 x por semana; vinagretes no ponto para aprimorar o paladar; e os pickles? Montanhas de frascos coloridos, pelos armários dentro, à espera da sua vez … Pois! Dá trabalho! E de facto, não é para todos. Todavia, prefiro dar cabo de mim na cozinha, do que na sala de espera de um hospital. Na primeira sou estupidamente feliz!

E sim! Tenho dois miúdos fortes e lindos de coração puro, mente aberta e corpo são.

A pediatra de hoje, também já se rendeu e connosco deixou de beber leite e ingerir laticínios. Interessante não é? Lembra-me sempre aquele filme “Favores em Cadeia”.

Ah! Cuidado…  isto pega-se!

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