O Poder Curador dos Alimentos

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Desde miúda que parar para comer sempre foi uma perda de tempo. Atraía-me determinado tipo de alimentos, outros eram como se nem sequer existissem. Sempre fora desapegada da comida. 

A minha mãe é uma excelente cozinheira, o meu pai fazia a melhor sopa de peixe do mundo e o meu irmão conquista qualquer um com os seus paladares intensos. A nossa cozinha e seus aromas sempre foram tremendamente abençoadas por quem se dispunha a tal liturgia.  Sempre vivido em harmonia e respeito à frescura e qualidade dos alimentos que por ali passavam. Todos mas mesmo todos, sem excepção, rendiam-se a tais encantos. Um cerimonial de bom gosto. Um ritual aos sentidos. Um verdadeiro Ode ao alimento e à alimentação mediterrânica.

Apesar de toda esta relação abençoada, a minha ligação com a comida era mais filosófica que outra coisa. O prazer por si só, a emoção nela contida não bastavam. Existiriam outros níveis, outras órbitas de consciência que me arrebatavam a curiosidade e a reflexão. Poderiam até desvendar mais que o prazer primário desta ligação, o poder espiritual nela oculto.

Num ápice descobri o poder do jejum. Vivenciei vários jejuns e distintas mono-dietas. Experiências arrebatadoras, talvez inatingíveis a quem nunca por ali passou. Momentos que me aproximavam, sem saber, do poder curador dos alimentos.

A restrição a um alimento em especial, devolvia-me respostas claras quanto acção que este opera na harmonia da nossa mente, corpo, emoções, até ao nível espiritual. De facto cada alimento possui determinada energia e relativa função, acção essa que justifica o respectivo comportamento e motivação humanas.

O alimento é fundamental ao bom funcionamento do nosso organismo, essencial à nossa existência. É o alimento que define a qualidade do nosso sangue, que nutre todas as nossas células e órgãos do nosso corpo. A escolha de determinado tipo de alimento e alimentação, pode decidir a qualidade das nossas vidas. Abençoar-nos-á ou nem por isso. 

Afinal são os nossos hábitos alimentares que estabelecem o nosso estilo de vida. É exactamente aqui, a base e estrutura das nossas vidas.

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Com a dita evolução e desenvolvimento do planeta em geral, o contacto com a Natureza desvaneceu-se ao ponto do Homem se permitir esquecer da sua ligação à natureza, da pertença a um ecossistema do qual provém a sua sobrevivência.  No corrupio da vida, as nossas escolhas alimentares são sinónimo de corredores infinitos de hiper-mercados repletos de produtos e ações de marketing a cultivar o Já. Este culto do imediato dá as boas-vindas aos alimentos processados e refinados, amplia o ritual do despacha.

O resultado confine-se tantas vezes à doença e a solução passa maioritariamente pela farmácia ou hospital. É normal andarmos doentes, é banal recorrer à farmácia, é frequente passarmos pelo hospital.

Incrível como a evolução da medicina não nos trouxe mais saúde. O cancro passou à escala de uma gripe. As doenças auto-imunes aumentaram e as cardiovasculares dispararam. Novas e inúmeras doenças abundam, sem pararmos e refletirmos no porquê.

A relação entre a doença e o desligar da Natureza são águas que confluem no mesmo rio. O Homem ao separar-se da Natureza, desligou-se de si. O seu poder pessoal anda por aí perdido, totalmente à deriva. O rumo só poderá focar-se na prevenção e mudança de estilo de vida, alteração dos hábitos alimentares. Estes sim são e serão sempre os nossos melhores remédios. A natureza como a nossa melhor farmácia. Nós os nossos melhores médicos.

Auto responsabilidade ressoa cada vez mais neste caminho.

Somos um ser único e muito especial, como tal há que estimular todas as nossas capacidades naturais e inatas de nos auto-curarmos. Somos um todo físico, mental, emocional e também espiritual. Qualquer doença detectada afetará o todo, não apenas uma parte.

Existe todo um equilíbrio e determinados princípios que materializados no nosso dia-a-dia promovem uma saúde mais estável.  A maior parte das vezes surgem doenças devido ao consumo excessivo de alimentos de muito má qualidade. Provavelmente nem sequer deveriam denominar-se de alimento.

Se existe uma lista de alimentos a evitar ou retirar por completo da nossa rotina alimentar são eles: laticínios, produtos processados, açúcares refinados e produtos de origem animal. Basear a nossa alimentação em plantas, cereais integrais, grãos, sementes e frutos ao sabor da estação confere a possibilidade de recuperar toda a homeostase perdida, com relativa facilidade. Existem inúmeros estudos e estatísticas que o comprovam.

Refeições à base de arroz integral, millet, cevada e outros cereais integrais, sopa de miso, sopas de legumes, algas, feijão azuki e outras leguminosas, sementes e frutos, vegetais ligeiramente cozinhados e fermentados naturais são perfeitos remédios caseiros.

Conhecendo os benefícios de cada alimento, privilegiando a sua energia e ação sobre o nosso organismo, tendemos para uma vida mais saudável e feliz. Existem alimentos de Inverno, métodos culinários de Verão, germinados de Primavera e quietudes Outonais propícias a que tudo se desenrole, nas nossas vidas, de forma simples, clara e muito mais direta.

Remédios caseiros como creme de arroz integral, chá de azuki ou um simples sumo de maçã deveriam constar na nossa lista de auto-cura, associados a pratos bem confecionados e equilibrados.

Que o alimento seja sempre o nosso remédio.

 

❈ Publicado pela primeira vez na revista Raízes Mag

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